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LANDS PROJECT. EMPTY OF SEPARATED EXISTENCE.

 

Outro ciclo processual, a mesma lógica. Lands Project refaz-se uma vez mais confirmando a sua natureza. As obras não conhecem separação entre si e o todo, todas se pertencem e se movimentam livremente encontrando novas soluções relacionando diferentes realidades. O imperceptível regressa, tal como o desenho, o secundário, o oculto, a tentativa, o transitório, o instável e a série. Uma nova extensão intelectual, onde se assiste a tais ocorrências, é reclamada novamente. É pedido um indigitamento à eupatia onde a respiração consciente legitima o padrão inspirando nova ordem. Revelam-se analogias ocultas nas assimetrias e irregularidades fractais, nos traçados e nos alçados. Conjectura-se um manifesto à mente abstracta onde a imperfeição é associada ao momento de transformação. A pintura vive da aceitação de imperfeições. A inevitabilidade essencial do desenho mental é transferido para o conceito morfológico da pintura criando o desconforto ilusório da falta, a sensação do vício ou a ideia de “já se conhecer” a práxis

 

Convoca-se então o ver inclusivo de um conhecimento que não opera no constrangimento do tempo, mas do todo ligado, que  existe para além do visível integrado no ‘não-tempo’. Para aceder a essa outra percepção é indispensável reservar um período para a contemplação/meditação.

 

O Tempo que pronuncio para a observação é o requerido para o alinhamento entre a compreensão que se usa e um novo entendimento. A simplicidade dos movimentos que deixam rastos, à partida imperfeitos, uma vez que não pertencem aos valores conhecidos respeitantes ao mundo acelerado, necessitam tempo, humildade e desapego para serem notados. A pintura pede esse momento, esse espaço, para descobrir o belo na sua imperfeição. Quando pronuncio belo não me refiro a nenhum conceito ocidental, ''essencialmente retiniano'', que não exige vez nem permite que ela passe convocando para si só a fracção drenante e desordenada das emoções. Refiro-me ao necessário para apreender o ensaio combinado de imperfeições, que acolhem outra veracidade estética, aparentemente de carácter livre, mas que busca em si, regras interporias. Toca-se o Verbo com o olhar.

 

Por instantes, a vista tem acesso à fiscalidade geométrica produzida por manchas e formas processuais que nos mostram outros factos possíveis, que nos decretam um compromisso abnegado para que o ciclo ocorra como a revelar campos magnéticos carregados de seriação.

Nasce, para a nossa visão, um espaço onde a luz converge e toca a sombra, ciclicamente, replicando esse movimento fadário. Irrompem-se campos bidimensionais para fugazmente conquistarem a tridimensionalidade, como a almejar criar-se a si mesmo, sem atravessar o Criador. É um momento de rebelião onde não se intenta honrar a premissa processual.

 

Toda esta aparente complexidade esconde singeleza de espírito, uma natureza simples, uma repetição, uma evidência que só se revela a almas amotinados pela frescura. Tudo se reorganiza uma outra vez, são ciclos sem fim tal como sem início, continuados, entidades sem tempo em lugares sem espaço. Dir-se-ia que não existem, não fosse o lastro tridimensional do pronto.  A Eterna busca. Um Nada Sem fim vazio de uma existência separada.

 

Susana Chasse

(Texto produzido no contexto da exposição individual 'Empty of Separated Existence' na Galeria São Mamede. Lisboa)

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