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MICRO-SELFIE

 

Micro-Selfie, ou a ausência do auto-retrato. A desconstrução da acepção de Selfie por via da aproximação micro para um olhar macro. Uma demonstração da co-dependência entre escala e percepção. Personificação da micro complexidade universal cíclica, exemplo de uma estrutura invisível e sensível. Através dela materializa-se o mundo, o padrão e a repetição. É uma celebração habitada de rectas e curvas, na luz como na sombra, que se eleva na essência e se amadurece algures. De uma tridimensionalidade ilusória, tal como o corpo o é, entrega-se à sedução da não-linearidade. Desabriga a representatividade do concreto e submete a visão a outra escala, a da natural abstracção, a microscópica existência do Micro para o Macro e vice-versa. Esta é mais uma subsequência de Lands Project

 

A ideia de que sou o que observo, edifica-nos um falso conforto, tal como uma imagem impressa nos patenteia a serenidade do conceito. Mas acontece que, ao nos aproximarmos, entendemos que tudo não passa  de um conjunto de inúmeros pontos de cores separadas, sem que combinados apresentem qualquer limite ou história, e onde outrora existiam conceitos, existem agora manchas circulares que se confundem em planos sobrepostos. É o desconforto da desconstrução/construção permanente que nos organiza sem estrutura limitada.

As percepções cognitivas geradas pela visão da mente são apenas submissões e categorizações criadas pela mesma, são perturbações involuntárias e automáticas do processo de compreensão. Presenciamos o novo, adulterado então pelo intelecto que nos endereça tudo para o sabido como uma ideologia automática. É a mente vendo-se a si mesma.

Importa a noção onde não subsistem tais limites mentais, sem conceito. Qualquer volume é apenas, e ainda, o resquício da memória. Interessa relembrar o processo da constante impermanência, uma vez mais. Legitimar outra escala, outro facto, onde sobrevém outra prática da razão, uma outra perspectiva de inúmeros quadrantes com a possibilidade de co-criar uma linguagem sem idioma, onde Torres de Babel submergem.

 

Estas são composições também elas contaminadas, mas apresentam-se agora para que sejam contaminadas pelo outro. Não o que que existe no corpo, mas aquele que, no plano do saber inconsciente, depreende por osmose. Assim, no átimo onde a pura contemplação/acção existem em simultâneo, ocorrerá o acto criativo genuíno, a raiz da práxis abstracta, e não, a dominada reacção. 

Este plano ténue, não circunstancial, é o instante onde todas as Selfies são uma, independentemente de quem o vê ou do que é visto, sem o “auto” individualizado, mas o todo unificado.   

 

Susana Chasse

(Texto produzido no contexto da exposição individual 'Micro-Selfie (or the Absence of Self Portrait)' na Galeria Sete, em Coimbra)

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